GRIME — O RITMO QUE CONECTA INGLATERRA E BRASIL
Conheça mais sobre o ritmo que mostra similaridades entre periferias de Londres do Brasil
O rap é um gênero musical em constante evolução. Desde os anos 70 passou por diversas mudanças de estilo e de conteúdo. Porém, a essência não pode mudar, R, A e P não podem deixar de ser “Ritmo e poesia” na tradução do inglês.
Conforme os anos passaram, a música também evoluiu, na década de 90 veio o “boom” tecnológico e a música eletrônica dominou as paradas, e claro, entrou no rap. No início da década de 2000 surgia na Inglaterra, mais precisamente nas periferias de Londres, o Grime.
O rap já utilizava samples (amostras de outras músicas ou sons que são utilizadas para produzir outras) nos anos 90, mas na década seguinte, DJs e produtores ingleses trouxeram algo novo. Muito influenciados pelo Garage, Jungle e Drum and Bass, ritmos populares da cena underground inglesa, nascia o Grime.
Com uma taxa de de 140 batidas por minuto, uma valor intermediário entre o Rap e o Garage, mas com uma agressividade característica, que criava uma base sonora propícia para rimas, o Grime começava a atrair produtores e também Mcs interessados em fazer suas rimas e poesias.
O ritmo era tocado em emissoras piratas de rádio, e às vezes batalhas de MCs eram promovidas em beats de Grime, o que ajudou a popularizar o gênero. E na metade dos anos 2000 o ritmo avançava para uma popularização, graças a nomes como Dizzee Rascal, Wiley e Kano.
Após perder força no início dos anos 2010, o ritmo voltou a ganhar força graças a nomes como Skepta e Stormzy, e ambos nomes conseguem em alguns momentos “furar” a bolha e chegar às rádios e paradas do país, Stormzy agitou o tradicional festival de Glastonbury e já fez música junto com o cantor pop Ed Sheeran, enquanto Skepta já assina participações em músicas de Rappers americanos como Drake e A$AP Rocky.
Das periferias da capital britânica, o ritmo chegou ao Brasil, mais precisamente à São Paulo, o Dj e produtor CESRV contou ao Monkeybuzz como foi o início do Grime no país: “Quando nós começamos a tocar Grime nas festas, não tinha ninguém no Brasil que tinha abraçado o estilo e decidido fazer esse tipo de música. O máximo que tínhamos eram MCs de Dancehall e Ragga fazendo coisas que migravam do Dubstep ao Grime.”
Hoje, CESRV é um dos principais produtores de Grime do país, tendo produzidos álbuns marcantes do gênero no país como “Running” do paulistano Febem, “Ruas” do também paulistano Fleezus e “Brime!” o grande sucesso do Grime nacional, que conta com faixas produzidas durante uma viagem à Londres para explorar as raízes do gênero. Além de faixas para o disco, a viagem ainda rendeu o documentário ‘Say nuttin’ disponível no youtube no canal da ‘Sigilo SP’.
No Rio de Janeiro, a terra do Funk a 150 batidas por minuto, o Grime encontrou um território promissor, afinal, beats acelerados não eram novidade para os MCs cariocas. Dos subúrbios da cidade maravilhosa nasceu o Brasil Grime Show, que é baseado nos programas de Grime das rádios piratas britânicas mencionadas anteriormente.
O formato é simples, dois MCs convidados rimam em cima de beats diversos do Dj que comanda a sessão, quando o Dj se empolga com um verso ou com o encaixe da rima com a batida, acontece o “Rewind”, que é quando o Dj volta a batida para que o MC repita verso, como se fosse um replay em uma partida de futebol.
E por falar em futebol, é assunto recorrente da cena de Grime. Está presente em diversas músicas, do Grime brasileiro podemos citar ‘Nigéria 96’ do carioca SD9, referência à seleção nigeriana que conquistou o Ouro olímpico nos jogos de Atlanta em 1996 e ‘Thiago Silva’ referência ao zagueiro brasileiro na música do britânico Dave.
Inclusive, a capa de “Brime!” brinca com isso, ao retratar um momento da final do Mundial interclubes de 2012, entre Chelsea da Inglaterra e Corinthians do Brasil, nesse contexto significa o Brasil chegando com brutalidade e agressividade num ritmo dominado por ingleses. Além disso, é comum ver MCs de Grime usando camisetas de times de futebol em clipes.
O Brasil Grime Show é hoje o maior expoente do gênero do país, idealizado pelos DJs e produtores Antonio Constantino (ANTCONSTANTINO) e Mateus Diniz (diniBoy), o projeto revela talentos do Grime e Drill no país como SD9, Fleezus, Febem, Leall, N.I.N.A. e em breve retornará para a sua 4ª temporada, sempre disponível no Youtube.
É um projeto que geralmente convida MCs, mas também é aberto para que MCs menos conhecidos sejam apresentados, eles se inscrevem durante o processo seletivo, enviam seus materiais e podem ser chamados para participar do projeto, na última temporada, a Funkeira Mc naninha foi convidada, e embora seja do funk, mostrou jogo de cintura e no fim do episódio conseguiu encaixar suas letras no ritmo do Grime.
As letras do Grime britânico e brasileiro também refletem a realidade do dia a dia das áreas onde vivem, no Brasil vários temas do cotidiano do subúrbio e favelas são abordados, mas o Grime brasileiro faz isso através de uma sonoridade muito mais agressiva que o inglês.
Enquanto o paulista Fleezus trata um pouco mais de ostentação, seu conterrâneo Febem diz que para sobreviver nas ‘quebradas’, somente sendo rápido como (Usain) Bolt. No Grime carioca os assuntos também envolvem a violência e o tráfico, no disco “40º .40” de SD9, há uma faixa chamada “Poze do Rodo”, referência ao famoso MC de funk carioca.
OBS: Esse texto é parte de uma sequência de 3 textos que deveriam ser entregues para a faculdade, mas após escrever esse texto, descobri que deveria ser apenas 15 linhas. Então, como já queria escrever sobre esse tema há um tempo, esse foi o texto que seria enviado à professora.